Psicodella: estréia em disco autoral com muita energia
Mesmo em tempos em que comprar CDs já não mais o hábito mais praticado por fãs de rock, o lançamento de um álbum ainda se configura como meta principal das bandas que se dedicam a produzir música autoral. E, quando se trata de um primeiro full length, essa meta é sempre cercada de muitas expectativas. Afinal, qual músico não tem uma overdose de curiosidade pra saber o que ou ouvintes estão achando de seu trabalho. E imagino que essa realidade se aplique à banda Psicodella. Nascida em São José do Rio Preto, ela se chamava anteriormente Torn, e circulava por diversas cidades da região, atuando com covers de nomes como System of a Down, AC/DC, além de artistas nacionais como Pitty e Raimundos.
Até que em 2016, vieram mudanças profundas na carreira do
grupo, que hoje tem Anie Doná (vocal), Walter Poletti (guitarra), Daniel
Borsato (bateria) e Hailon Vançan (baixo). Primeiro mudaram de nome, passando a
chamar-se Psicodella. E gravaram no estúdio Busic (em Sampa, dos irmãos Andria
e Ivan Busic, ex-Dr.Sin) seu primeiro disco, com 9 temas puramente autorais. A
partir de então a banda passou a mesclar seu repertório, dividindo-o entre os
covers e suas próprias criações.
Psicodella, o disco
O que chama a atenção logo de cara é a qualidade da
produção. Efeitos de guitarra e baixo muito bem equilibrados, bateria concisa e
amigável com os arranjos e os vocais de Anie, soando com ótima dose de
agressividade. Por ter uma mulher à frente dos microfones, muita gente pode ter
um conceito prévio de associar o grupo a nomes como Pitty, Pato Fu ou Toyshop.
Ledo engano, amigo leitor. O quarteto aqui pratica um hard rock muito bem
arranjado, com fortes referências a classic rock, e executado de maneira bem
visceral. Os solos de guitarra curtos e precisos. As músicas têm peso e acessibilidade,
convivendo simultaneamente. As letras versam sobre existencialismo, condições
sociais/amorosas e odes ao estilo de vida rock and roll, sem soarem
superficiais ou intelectualóides demais.
Destaques? O álbum todo é nivelado por cima em termos de entusiasmo
sonoro. Nada é meia boca. Mas vamos a alguns. O disco abre com “#nuncaserão”, o
qual poderíamos classificar com o hit da banda. Levada com muito groove
(característica da maioria das músicas, ouça "Deixa o rock rolar") e
um refrão grudento. "Só guardo o que é bom" e
"Até logo" são as mais cadenciadas, a primeira com seu início no
esquema balada (chimbau e dedilhado), para ganhar peso posteriormente, a
segunda tem um bom apelo radiofônico. Seria forte candidata a rolar nas FMs por
aí, não fossem a$ influência$ que elas tem das gravadoras. "Quem vai nos
ouvir" começa com a força visceral do vocal (cujo refrão tem vozes
dobradas) e tem como base a levada de rock clássico nos fraseados de guitarra
(e um destacado solo de guita). Outro destaque latente do trabalho é "Way
to Go", licks e base se intercalando (lembranças melódicas de AC/DC são
fáceis de se identificar), cadência precisa da batera e uma aura prazerosa aura
rock and roll nas linhas vocais. E o disco fecha com "Te salvar",
talvez a mais densa do disco, levada por paletadas nervosas da guitarra e um
conjunto de backings que dão um sabor especial às refrães.
Enfim, um disco objetivo e agradável. Não se surpreenda caso
se ouça cantarolando várias partes das músicas deste disco. Afinal, ele tem uma
saudável aura de pegajosidade. Até onde o álbum pode levar a banda em termos de
carreira não sabemos, mas que é um início fonográfico vibrante, com certeza é.
Way to go.
Um papo com Walter
Poletti
Ready to Rock - Primeiramente, uma questão óbvia: depois de muitos anos como Torn, por que
a banda mudou para Psicodella, e qual o motivo dessa escolha?
Walter
Poletti - Sempre pensamos em desenvolver
um trabalho autoral, ainda antes do retorno da banda Torn, em 2011. Entre os
anos de 2008 e 2010, com a extinta Don Crookane, gravamos um EP com três
composições, sendo duas lançadas numa compilação tributo ao AC/DC pelo selo
Versailles Records, situado em Nashville/EUA (http://www.allmusic.com/album/rock-roll-train-a-millennium-tribute-to-ac-dc-mw0002050820).
Até que, no início de 2016, quando decidimos registrar as novas composições e o
nome da banda, alguns empecilhos com a “marca” nos obrigaram a mudar. O nome Psicodella
foi o que, dentre tantas opções, soou melhor a nossos ouvidos, talvez por lembrar
psicodelia, rock and roll.
RR - A banda atingiu a tão sonhada meta de
um CD autoral. Como é a sensação de atingir essa meta?
WP - Esse era um dos principais objetivos da Psicodella:
entrar em estúdio e trabalhar suas próprias composições é uma sensação única; é
indescritível ver e ouvir o produto final.
RR - O disco é muito bem produzido, em se
tratando de composições, arranjos, qualidade sonora. Até que ponto o estúdio dos
Busic ajudou nesse sentido?
WP - Conhecemos os irmãos Busic quando abrimos
shows da Dr. Sin, em 2008 (no Toma-Rock, São José do Rio Preto/SP) e em 2009
(no Under Rock Bar, Bauru/SP). O respeito mútuo foi instantâneo e, desde então,
mantivemos contato. Quando decidimos gravar com um produtor renomado, Andria
Busic foi o principal nome: ele tem mais de 25 anos de carreira, experiência
internacional, foi eleito várias vezes o melhor baixista do Brasil, dividiu
palco com artistas como Ian Gillan, Nirvana, Black Sabbath, KISS, Bon Jovi, AC/DC,
Bruce Dickinson, Scorpions, Dio, Whitesnake e Aerosmith. Seu conhecimento
musical, na teoria e na prática, além da estrutura disponível no Mr. Som
Estúdio e o atendimento amistoso nos proporcionaram o timbre e a mixagem que
tanto almejávamos.
RR - Andria fez o baixo do disco. Ele, como
produtor, mudou algum detalhe nas ideias originais do álbum?
WP - Entramos em estúdio sem baixista e,
surpreendentemente, Andria Busic se propôs a gravar todas as linhas, que
ficaram fantásticas! Muitos arranjos, melodias e ritmos foram sugestões dele, das
quais acatamos sem hesitação. Como ele já conhecia nosso estilo, pôde nos
levar, musicalmente, ao ponto que queríamos.
RR - Sinto a influência de alguns nomes no
seu trabalho, como por exemplo, de AC/DC em "Way to Go" (no riffs e
no solo). Até que ponto as influências de vocês atuaram na concepção das
músicas?
WP - Como guitarrista e principal compositor do
grupo, sou fã de AC/DC – inclusive tenho os autógrafos de Angus Young & Cia.
tatuados em meus braços e costas. Porém, outros artistas, principalmente do “Classic
Rock”, também influenciam diretamente a banda como um todo: Black Sabbath, Led
Zeppelin, Deep Purple, Iron Maiden, System of a Down.
.
RR - Ao longo do disco, nos deparamos com
temas mais acessíveis e diretos, como "Só Guardo o Que é Bom" ou
"Até Logo". Outros já soam mais agressivos e pesados como "Te
Salvar" e "Do Meu Jeito". Como funcionou o processo de
composição?
WP - Não nos policiamos nem “forçamos a barra”
para compor, apenas deixamos fluir nossa maneira de tocar e tudo aconteceu
naturalmente – tanto os riffs, arranjos e melodias quanto as letras, onde
buscamos expressar aquilo que passamos no dia-a-dia, tanto como cidadãos quanto
nos relacionamentos, no trabalho, na estrada.
RR - Existe sempre a controversa discussão
entre ser uma banda autoral ou de covers. Durantes muitos anos, vocês atuaram
pela segunda categoria. Agora, com um álbum lançado, existe tranquilidade em
misturar os dois modelos nos shows?
WP - Sempre tocamos nossos singles “#nuncaserão”
(https://youtu.be/6k9TqOcN7C8), “Até
logo” e “Só guardo o que é bom” nos shows; “Way to go” e “Quem vai nos ouvir”
frequentemente aparecem no set list também. A resposta tem sido extremamente
positiva: durante os intervalos, vendemos CDs para o público - foram aproximadamente
500 cópias em menos de 4 meses (o álbum está disponível para download em https://onerpm.com/disco/album&album_number=7565114440).
Vale ressaltar que algumas rádios da região e da web (Educativa FM, Unifev, Web
FM) têm executado essas canções. Quanto aos “covers”, são mais de 200 clássicos
do rock internacional no repertório, além de alguns hits do rock nacional.
RR - Quais músicas funcionam melhor ao
vivo?
WP - Curtimos muito estar no palco, tocar ao
vivo; há muita energia em todas as faixas, gostamos delas e as tocamos da
melhor maneira, mas certamente “#nuncaserão” e “Até logo” funcionam muito bem,
talvez por haver uma identificação imediata do público com as letras. Entre os covers, “Highway to hell” (AC/DC), “Psycho killer” (Talking
Heads), “Iron man” (Black Sabbath), “Killing in the name” (Rage Against the
Machine) e “Chop Suey!” (System of a Down) são sempre certeiros.
RR - Qual a expectativa em divulgar o disco
além das fronteiras de Rio Preto?
WP - Além de Rio Preto, temos um público fiel no
interior de São Paulo: Fernandópolis, Jales, Votuporanga e Pereira Barreto, por
exemplo, entre outras cidades, como Mirassol, São Caetano do Sul, Uchoa, Novo
Horizonte, Urupês, Catanduva e até Paranaíba/MS. O objetivo agora é expandir e alcançar
novos destinos.
RR - Como você avalia a cena do rock de Rio
Preto, seja autoral ou cover?
WP - Positivamente! Após certa “estagnação”, a
“cena” voltou a crescer e, atualmente, há muitas casas que apostam no rock em
São José do Rio Preto/SP, inclusive para apresentações de música autoral.
RR - Você acredita que o fato de ter uma
mulher como vocalista pode representar um ponto mais forte para que as pessoas
queiram conhecer o trabalho da banda ou é indiferente?
WP - A qualidade é, sim, um diferencial. Anie
Doná é excelente vocalista; sua voz e presença de palco chamam a atenção e
voltam os olhares do público para a Psicodella. Muito de sua formação tem
contribuição internacional: entre os anos de 2010 e 2011, Anie se apresentou e
gravou com as bandas norte-americanas Bottoms Up, Brain Shakers, Cheney’s
Shotgun, Down South (Atlanta/GA) e a californiana The Gunslingers (Los Angeles).
RR - Quais os próximos planos da banda?
WP -Este
foi um grande ano para a Psicodella! O lançamento do álbum rendeu algumas chamadas nos principais
jornais da região e abriu portas para participarmos, por exemplo, do Planeta
Rock 5ª edição, evento em que dividimos palco com CPM 22 e Titãs, gigantes do
rock nacional. No dia seguinte, Anie cantou com Raimundos, a convite de ninguém
menos que a dupla Digão e Canisso. Poucas semanas depois, abrimos para a maior
banda independente do Brasil, a Velhas Virgens. No momento, há um novo clipe em
pré-produção, bem como estratégias de marketing e publicidade para a
Psicodella. E a agenda de shows está cheia!.
RR - Fique à vontade para tecer qualquer
outro comentário sobre o Psicodella.
WP - Primeiramente, parabenizamos Júlio Verdi
pela magnífica obra “A História do Rock de Rio Preto” (que traz a Psicodella
ainda como TORN, na página 788) e pelo grande trabalho em prol do rock de São
José do Rio Preto/SP e região; agradecemos pelo espaço. Você, fã do blog “Ready
to Rock”, ouça Psicodella, nos siga nas redes
sociais e “deixe o rock rolar”!
Maiores
informações sobre a banda:
-
Instagram: https://www.instagram.com/psicodella/
Banda sensacional! Som de qualidade e repertório mais do que especial!
ResponderExcluirOh yeah! :)
ExcluirVida longa ao rock'n roll!
Valeu!!!!
Muito trabalho envolvido, muita dedicação. Resultado final muito bom mesmo.
ResponderExcluirValeu, Julio!
ResponderExcluirAdoramos a matéria.
Obrigada por propagar e fortalecer o cenário rock'n roll do interior de sp.
Parabéns. Gde matéria sobre essa banda de amigos músicos talentosos que tem o rock nas veias. Repertório farto e de gde qualidade. Só sonzera bruta. Esse sucesso não é a toa. Curto muito e sempre q posso. Psicodelia na veia.
ResponderExcluirEstá banda é pura qualidade,sucesso eterno!!!
ResponderExcluirValeu, Psicodella! Rock da melhor qualidade!
ResponderExcluirGrande banda. Muito talentosos e quem não presenciou um show deles, está perdendo muito. Uma das melhores bandas de Rio Preto e região.
ResponderExcluirBanda sensacional!Parabéns e mais sucesso para vocês!
ResponderExcluirGrande, Julio Verdi... o maior pesquisador do rock em Rio Preto! Indescritível saber que você entendeu o.álbum, a proposta da Psicodella. Su resenha é sinal de que estamos no caminho certo.
ResponderExcluirBanda fantástica. Merecem todo sucesso que estão vivendo e muito mais por vim ainda. Boa sorte
ResponderExcluirObrigado pela oportunidade Julio Verdi!
ResponderExcluirKeep rockin!
Muito legal conhecer mais sobre a banda sua trajetória e experiências. Isso explica o som d qualidade e os muitos fãs q a banda já tem. Ótima matéria e entrevista. Psicodella!! Rock'n roll!!!
ResponderExcluirA melhor banda tocando o melhor rock'n roll
ResponderExcluirCara, até perigoso dirigir ouvindo a banda...
ResponderExcluirA música empolga e...
Muito bom o som!!!