Motordrunk mostra excepcional produção sonora em seu primeiro álbum
A produção de novas e excelentes bandas da cena rock/metal
do Brasil parece ter migrado da escala manufaturada para a industrial. Isso
porque a quantidade e qualidade de grupos que surgem anualmente por estas
terras é absurda. Eu diria que, se no quesito mercado de shows (quantidade de
eventos, padrões de equipamentos, exposição em mídia, retorno financeiro a
músicos e produtores) ainda estamos bem abaixo do que se faz lá fora, em termos
de criação temos uma das melhores cenas do planeta. E a banda a qual vamos
expor nessa resenha é mais uma que corrobora esta condição. Motordrunk, natural
de São José do Rio Preto/SP, debuta em seu primeiro álbum, autointitulado
"Motordrunk". Criado em 2009, o grupo começou sua trajetória
executando covers de grandes artistas do hard rock e heavy metal, em shows por
sua região. Não por acaso, as características de sua música autoral se
posiciona nesse mesmo patamar - heavy metal moderno e classudo, com algumas
pitadas de hard rock (pesado). Ao mesmo tempo que traz referências a nomes
antigos como Ozzy (fase Zack Wylde) remete à galera da geração atual, como
Black Country Communion, Dream Evil ou Monster Truck. De uma forma geral, a presença de vocais
marcantes, teclado, bateria precisa e a força criativa da guitarra garantem à
banda uma aura bem própria, distanciando-se de qualquer possibilidade de soar
idêntica a qualquer banda já estabelecida.
A formação atual é composta por Sérgio "Naza" Guimarães
(vocais), Raphael Dias (Guitarra), Jovani "Fera" (bateria), Maurício Lopes
(teclados,backings) e Renato Montanha (baixista do conterrâneo Maestrick). As
captações e pré-produção do foram realizadas em sua cidade natal, e a mixagem e
masterização ficou a cargo do renomado produtor Adair Daufembach (Project 46, Hangar, Maestrick). A arte da capa foi criada pelo designer
Wildner Lima, de Rio Claro/SP.
É bem comum a
reflexão, dentre os apreciadores do estilo, da presença e relevância do teclado
em formações heavy metal. Herança do hard setentista, nos modelos máximos de
Purple e Uriah Heep, os teclados foram peça fundamental para o estouro das
bandas de power metal melódico dos anos 1990/2000. Mas, mesmo no metal
clássico, encontramos diversos exemplos de grupos que incluíram tal recurso,
como Black Sabbath, Ozzy solo, Savatage, Queensryche. Aqui no Motordrunk, o
teclado se insere na música como um integrante representativo tanto quanto os
demais instrumentos, sendo que em diversos momentos do disco percebe-se a
presença de tal instrumento no desenvolvimento da ideia da música.
Motordrunk, o disco
A sonoridade de todos os elementos está por demais
equilibrada. Todos os instrumentos estão bem nítidos e conseguem transportar ao
ouvinte cada uma de suas intenções criativas. O que salta aos olhos (e ouvidos)
é a força da guitarra, com riffs marcantes e uma impressionante gama na
construção dos solos. O álbum começa com o que se convencionaria chamar de hit,
a faixa título "Motordrunk" com seus riffs grudentos e um grande
refrão.
"New Kind of Freak" (os refrães lembram um Kiss e conta
com um solo de guitarra muito interessante) e "Drunk and Dangerous"
(belo jogo de vozes) têm um relances de hard em suas pontes e contam uma pegada
visceral do baixo. Em "Scars",
temos a faixa mais sabbathica da banda (se integrasse o "13" ninguém
se espantaria). "Break Away" tem aquele lado hard pesado com uma
pegada bem massa nos refrães e dá-lhe rifferama pesada.
Riffs calvagados e uma bateria direta emolduram "Black
Machinery", uma das mais agressivas do disco. A bateria rápida e versátil
marca os andamentos de "Regression", que tem certa alternância de
cadência, bem pesada e com um solo certeiro de guitarra.
"Drink Away the Storm" abre com um clima southern
com direito a violões e slide, seguido por um vocal introspectivo. Aos poucos a
faixa vai se encorpando com licks. Lá pelos 2 minutos o peso visceral retorna,
com riffs na cara, mais um excelente solo de guitarra e vocais dramáticos. Pela
atuação das vozes e melodia, "Underdog" lembra um pouco a fase atual
do Anthrax. Por fim, "Quicksand", uma clássica balada pesada introduzida
pelo teclado, que intervem com destaque em toda a faixa, mesmo nas partes mais
pesadas.
O que se percebe é que a grande qualidade do álbum pode ser
fruto, dentre outras coisas, da experiência que seus integrantes , tendo
participado há décadas, de várias bandas da cena underground de Rio Preto, como
Nothing Face, Cabrero e Last Wizzard. Mas, sem olhar para traz, o Motordrunk se
muniu de elementos clássicos para gerar uma sonoridade com o frescor da
modernidade, dando parceria entre o tradicional e o novo. Um belo álbum de
estreia, direto, agradável, daqueles que dá vontade de ouvir diversas vezes. É
apenas um começo certeiro, mas, se a banda mantiver esse esmero nos cuidados
com a produção e tão impactante poder de composição, o Brasil ainda ouvir falar
muito de Motordrunk.
O álbum já está disponível nas plataformas musicais e em
breve terá sua edição física lançada
Uma conversa com
Maurício Lopes
Ready to Rock - Após quase 10 anos de
carreira, o Motordrunk finalmente lança seu álbum de estreia. Porque demorou
tanto?
Maurício Lopes - A banda foi formada inicialmente com o intuito de executar covers das preferências
de seus integrantes, executando-os pelos pubs da região. Foi apenas em 2014 que
decidimos partir para as autorais, já que era vontade de todos. Tínhamos que conciliar
os horários de encontro para as composições com os eventuais empregos de cada
membro e o mesmo aconteceu com as gravações.
RR - Como
funciona o esquema de composição no grupo?
ML - Para esse debut foi feito da seguinte
forma: Primeiro apresenta-se alguns
riffs e passagens de composições. Em seguida é efetuada a estrutura e os
arranjos. Então é definido o tema da música, onde é feita a letra. Já estamos preparando
o material do próximo álbum, onde poderá haver alterações nesse processo. Já
temos composições criadas a partir da bateria.
RR - Montanha, do Maestrick,
participou da gravação do disco. Ele será integrante fixo ou a banda vai buscar outro baixista?
ML - Não estamos em busca de um baixista fixo no momento. Estaremos
trabalhando com o Montanha nas divulgações do debut Motordrunk. Depois veremos
o que o futuro nos reserva... (risos)
RR - É excepcional a qualidade da produção
do disco. Como chegaram a este patamar?
ML - Primeiramente, muito obrigado pelo elogio. Quando decidimos lançar o álbum
Motordrunk, queríamos que ele tivesse qualidade de gravação suficientemente boa
para estar ao lado dos álbuns de nossos ídolos, então deixamos a coisa fluir,
mas de forma minuciosa. Então juntamos forças com o Adair, que nos foi muito
bem indicado.
RR - A produção do Adair (como ocorre normalmente
com produtores) teve influência no que diz respeito a alterações de arranjos ou
inclusão de elementos nas faixas já compostas?
ML - A influência maior do Adair na produção foi durante a pré produção,
onde ele criou as guias, para que captássemos de forma mais orgânica. Ele
também acrescentou alguns detalhes na "Break Away" e na estrutura da
Black "Machinery". Também foi responsável pela mixagem e masterização
do álbum.
RR - Apesar do álbum seguir o padrão heavy,
percebe-se bastante variação entre as faixas, algumas com cara de hard, outras
com níveis de velocidade distintas, outras com diferentes padrões de riffs.
Seria fruto de quais influências de vocês?
ML - Com certeza sim. Apesar de termos muitas influências em comum, os
membros da banda tem também influências e gostos musicais distintos um do outro,
o que pode sim ter influenciado diretamente nas composições.
RR - Apesar do disco estar bem nivelado em
termos de boas composições, gostei bastante das faixas "Motordrunk",
"Break Away", "Drink Away the Storm", "Underdog" e
"Quicksand". Vocês tem algumas preferências pessoais?
ML - É muito difícil em relação
a preferência. Afinal, todas são nossas filhas que queremos entregar ao mundo...(risos).
Mas, particularmente, acredito que a “Black Machinery”. Além de ser uma das que
mais gosto de executar, ela também mostra duas grandes influências musicais da
banda, sem contar a letra que trata-se de um assunto bem atual. A “Quicksand”
também se destaca para mim, por ser uma parte muito importante do meu passado. Não
posso me esquecer da "Scars", que também é uma das preferidas do
“Fera” (Jovani), junto com a "Break Away". Para o “69” (Rafael)
destaca-se a “New Kind Of Freak”, que mostra um lado mais Hard Rock, que é sua
principal influência. Já o “Naza” (Sérgio) tem um carinho especial pela “Drink
away the storm” que foi baseada em um sonho maluco que ele teve.
RR - Sabemos da dificuldade das bandas autorais em
Rio Preto. Mesmo assim vejo muita banda daqui lançado trabalhos nesse segmento.
Como você enxerga esse cenário?
ML - Infelizmente,
o cenário Rio-pretense está desfavorecido para o rock, no momento. Mesmo não
tendo muito espaço, ainda existe um determinado público fiel ao estilo, então é
muito importante que as bandas remanescentes continuem levantando essa
bandeira.
RR - Parece que você, Maurício, teve que se
afastar temporariamente por questões de saúde. Como está a previsão de volta?
Isso deve prejudicar a divulgação do disco?
ML - Meu retorno às atividades normais será em outubro. Isso não será
prejudicial, já que a banda pretende lidar com os shows a partir de novembro.
Outras atividades estamos conseguindo realizar virtualmente.
RR - Como tem sentido a repercussão do
disco até agora?
ML - Muito positiva até agora. Estaremos nas próximas edições de algumas
revistas europeias. Também com participação em rádios alemãs.
RR - Quando deve sair a versão em CD do
álbum?
ML - Temos previsão para o lançamento no início de outubro.
RR - Existem planos para shows pelo Brasil
afora?
ML - Sim. Temos a intenção de levar nosso som para o Brasil e também para o
resto do mundo.
RR - Quais os planos futuros da banda?
ML - Temos a intenção de levar nossa música para o mundo todo, então estamos
planejando uma “pequena tour” pelas principais cidades do país e, em seguida,
para o exterior.
Também iniciaremos os trabalhos para o
próximo álbum.
RR - Fique à vontade para deixam qualquer
mensagem ou outras informações sobre a banda.
ML - Estamos vendo nossos ídolos morrerem e a maioria das bandas atuais
estão partindo para outros estilos. A Motordrunk está aqui para manter acesa essa
chama, ajudando a perpetuar o Heavy Metal que tanto nos influenciou.
.
Contate a banda
https://www.facebook.com/ motordrunk
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