A Estação da Luz: um brilho do Rock Setentista
Sonoridade é um elemento
que os músicos buscam, mesmo quando elas não se adéquam ao padrão comercial de
cada era. Identidade é algo que se adquire quando o artista trabalha sua música
com sinceridade e crença no seu trabalho. Falando de rock, uma das bandas que
trilham por sua identidade e faz um trabalho de louvável valor artístico é a
Estação da Luz, banda de São José do Rio Preto/SP.
Quem ouve o recém-lançado
trabalho do grupo, o CD autointitulado, vai viajar numa música atemporal, algo
que lembre o passado, mas tem o sabor prazeroso do presente. Melodias
setentistas, instrumentação recheada de teclados e guitarras com o cheiro dos
70, uma aura psicodélica do rock ingênuo e complexo da virada dos 60, tudo isso
com letras em português, muito bem encaixadas nas estruturas da melodia.
Raramente vemos bandas no
Brasil fazendo esse tipo de música. E a Estação vem de Rio Preto(SP) mostrar
que tem um potencial musical forte e criativo, emoldurado pela psicodelia do
rock setentista. Com sete anos de carreira e muitos shows pelo Brasil, a banda
chega num patamar da carreira cada vez mais aprofundada na sua proposta
artística. E lança agora seu primeiro full lenght, já que havia lançado em EP
de covers anos atrás, com objetivo de divulgar seu trabalho.
"A Estação da
Luz", o CD, é um trabalho rico em muitos detalhes. Sua música é marcada
pela voz suave de Renata Ortunho, que desliza sobre uma base sonora composta de
guitarra (Cristhiano Carvalho) e teclado (Alberto Sabella) com muita piscodelia
encorpada e a marcação rítmica de baixo (Vagner Siqueira) e bateria (Junior
Muelas) que transpiram um "q" de prog. As músicas no geral têm
refrães fortes e com muito clímax dos elementos em conjunto e com muito
capricho nos arranjos.
A primeira faixa,
"Desconforto" tem um fraseado de guitarra que brinca com o
jazz-fusion e tem uma ótima variação nos andamentos. "O Fim" vem
marcada pela guitarra que abre mordendo de cara, a cadência vocal flui de
maneira crescente, enquanto o refrão mostra as vísceras conjuntas de guitarra,
bateria e backing vocals. É candidata a hit do disco, e seu desfeche é bem
sacado com vocais backings e principal se entrelaçando.
"Siga o Sol" é
faixa que mais lembra Mutantes, com muitos efeitos de teclado e a voz de Renata
indo a tons bem altos. "Desespero" é uma das melhores do disco, com
uma bela poesia da letra e com uma guitarra bem encorpada. "Esperto ao
Contrário" tem uma cadência bem funkeada, os vocais principais se revezam
entre vozes masculinas e a de Renata, sendo que faixa tem um cheiro de Secos e
Molhados.
"Tempo
Estranho" começa com uma suíte entre teclado e uma pegada de guitarra,
servindo de fundo para uma letra que, de forma inteligente e sem ser piegas,
homenageia e cita nomes das bandas nacionais dos anos 70, Som Nosso de Cada
Dia, O Terço, Mutantes, Patrulha do Espaço, Bixo da Seda, Veludo Elétrico,
Joelho de Porco, Moto Perpétuo, Recordando o Vale das Maçãs, A Bolha, Terreno
Baldio, Casa das Máquinas. Todas elas servindo como parte dos versos, num
desafio muito bem desenvolvido pela banda. No final vem aquilo que parece ser a
marca registrada da Estação: um desfecho com jogo de vozes e participação
acentuada dos teclados, numa viagem sonora e contagiante, como faziam nomes
como Uriah Heep e Deep Purple em alguns de seus temas.
A próxima faixa,
"Reta Tangente" tem uma letra com uma mensagem bem positiva, e vem
com uma levada bem melódica. Outra que remete a Secos e Molhados, com uma boa
intensidade no refrão e solos de guitarra bem sacados. "Canção para um
Amigo" é a faixa mais rica do disco, numa embriagante harmonia, com os
efeitos fantasmagóricos de teclado (que Ken Hensley muito se utilizava). Começa
suave e ganha força na distorção da guitarra e na pegada da bateria. É uma
música bem densa e rica nos arranjos e tem uma atuação bem marcante e
evidenciada do baixo.
"Par Perfeito"
fecha o disco na condição de bônus, pois é uma antiga canção da banda, que
resolveu manter a gravação original. A incursão de teclados a lá Beatles abre a
música, que apresenta guitarras com um bom peso e uma agressividade relativa
dos vocais masculinos. Sua pegada rápida lembra em alguma coisa o trabalho do
Made in Brazil. É com certeza um clássico da banda, que nunca poderá faltar nos
shows.
São oito faixas, mais o
bônus, num trabalho que não se torna de longa duração. Outra característica das
bandas setentistas, que faziam o suficiente para ser ao mesmo tempo, curto,
direto e brilhante. A maioria das faixas é creditada ao tecladista Alberto
Sabella, sendo que algumas têm a assinatura de Junior Muelas e Renata.
A proposta da banda não é
"voltar no tempo", mas revisitar a essência e a arte daquele rock psicodélico
produzido nos 70. E é essa essência que o Estação nos trouxe de volta, de forma
simplesmente brilhante.
Contatos: http://www.aestacaodaluz.com.br/
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