Pinga com Groselha lança primeiro CD, o irreverente "Brega Rock"
O cenário do rock brasileiro é composto por bandas que
apresentam uma diversidade deflagrante na abrangência lírica. Composições que tratam de amor, violência,
religião, política, existencialismo. E algumas delas tem o humor como tônica.
Velhas Virgens, Motorocker, Raimundos, Ultraje a Rigor, cada um em seu caminho
musical, são exemplos de artistas que possuem em sua trajetória letras que
assimilaram o humor como base. E um nome novo no cenário que aposta nessa
fórmula é o Pinga com Groselha.
Formado em São José do Rio Preto/SP, em 2011, o Pinga com
Groselha tem hoje em suas fileiras Carlos Vinícius (guitarra/vocal), Daniel
Leme (baixo/backings) e Ricado Neves (bateria/backings). Neste final de 2015 a
banda lançou seu primeiro CD, intitulado "Brega Rock". Analisando o
disco podemos categorizá-lo em duas frentes: a parte instrumental se compõe por
temas forjados hora por um rock direto e pesado (algumas puro hard rock),
algumas com distorções típicas de heavy metal, outras com forte acento pop e
outras ainda com algumas diversas roupagens musicais. A segunda frente diz
respeito às letras. Humor é algo subjetivo, mas é nítido quando nos deparamos
com essa arte feita sem exageros. Ou seja, o Pinga não se enquadra na categoria
"banda engraçadinha". A despeito do título do álbum "Brega Rock",
não existe similaridade instrumental entre o termo "brega" (utilizado
para classificar aquela música popular-romântica, feita por nomes como Waldick
Soriano, Reginaldo Rossi ou Amado Batista). Talvez a referência venha da irreverência
das letras, cujas sacadas dos temas, quase a maioria, satirizam histórias sobre
aventuras recheadas de sacanagem. O disco foi gravado e mixado no estúdio
Fermata (de Rio Preto) e é composto de dez faixas. A "Ready to Rock"
conversou com Carlos Vinícius, mentor da banda, sobre sua estréia em disco e os
demais detalhes que envolvem a carreira da banda.
"Brega
Rock", o disco
Como fora elucidado anteriormente, o CD é composto por temas
que flertam com várias tendências de rock. O hard rock tradicional (lembrando os grandes trabalhos de um Golpe de
Estado) pode ser visto em faixas como "Visita Íntima" (com um riff
contagiante, uma das melhores do trabalho, que narra a paixão por uma detenta),
"Cine Privê" (com uma levada à base de paletadas, e versa sobre
aquela seção de filmes eróticos que passava na TV aberta anos atrás) e
"Brega Rock" (uma faixa que trata dos propósitos da própria banda) .
Já outros têm uma pegada mais crua, soando como um Titãs (fase "Titanomaquia"),
como "Muié das Quebrada". Já "Genilda" conta com um levante
flamenco em sua execução. Outras faixas são conduzidas por um acento pop junto
às linhas de guitarra (solos e viradas de bateria), como "Passar o
Ferro", "Escravo de Seu Amor" (com um quê de old punk rock nas
guitas) e "Pesque-Pague".
A única faixa, digamos, séria do trabalho, é a balada "Vestígios",
uma ótima composição por sinal, que no esquema violão/voz, traz um refrão
daqueles que grudam na mente. E com direito a uma inserção de gaita de fole
(contando com o música convidado Gustavo Hernandes) e violões extras (a cargo
de Marcos Vale, do estúdio onde foi gravado o trabalho). E, ao chegar no fim do
disco, o ouvinte encontra uma versão pesada para a tradicional música "Escravos de Jó", que pode gerar
reações auditivas distintas, dependendo de seu estado de humor no momento.
Enfim é um trabalho que vai com certeza trazer diferentes
opiniões de quem o consumir. Mas talvez resida aí seu objetivo: ser diferente,
ser polêmico, fugir dos padrões de seriedade do rock nacional da atualidade.
Um bate papo com
Carlos Vinícius
1) Ready
to Rock - Como se formou a Pinga com Groselha e porque a escolha deste nome?
Carlos
Vinícius - Eu formei a banda com a
idéia de fazer uma mistura de estilos, saindo do convencional. Chamei músicos
para ensaiar e resolvi fazer versões de clássicos do “brega”. A primeira música
autoral composta foi “Brega Rock”. Acho que o nome da banda traduz bem a
proposta: o rock representado pela “pinga” e a “groselha” que revela todo o
enredo brega.
2) RR - O ato de mesclar elementos líricos do bom humor junto a estruturas padrões
do rock não é tão comum na cena. Como esse padrão de composição foi concebido?
CV - Existem algumas bandas que fazem isto e têm um
público fiel. Vide Ultraje a Rigor e atualmente a Pedra Letícia, que além do
humor, também utiliza muito a música brega e até foi apadrinhada por Reginaldo
Rossi. Queremos conquistar nosso público. Hoje há uma gama enorme de bandas
para ouvir. Se diferenciar foi objetivo deste padrão.
3) RR
- Como você acredita que será a aceitação do público consumidor de rock
clássico?
CV - A “pegada” da banda é o rock. A primeira
impressão de um consumidor de rock clássico quando se depara com a proposta da
mistura de música “brega” é de estranheza. Mas testamos o repertório ao vivo e
tivemos um feedback positivo. Somos rockeiros com intenção brega, mas sempre
rockeiros.
4) RR - Por ser algo diferente e até mesmo
transgressor, você acredita que a música da banda pode despertar o interesse de
um público fora do circuito do rock and roll?
CV - Acabamos de lançar o CD e um amigo me enviou um recado no facebook,
querendo comprar 2 exemplares. Um é pra avó dele, que já é fã da banda! A música
“brega” também é underground, mas tem um público bem variado. Acredito que é
uma possibilidade o interesse de outros públicos.
5) RR
- O CD "Brega Rock" tem
uma sonoridade surpreendente. Como foi a produção (pré e pós) no Fermata?
CV - Antes de entrar no estúdio a banda já estava
com algumas músicas ensaiadas. O Marcos do Vale (proprietário do Fermata e
co-produtor do CD) primeiramente gravou as guias. Todos juntos tocando com o
metrônomo e eu cantando. Após isto o Ricardo gravava a bateria em cima da guia
e posteriormente eu gravava as guitarras, o Daniel o baixo e no final
gravávamos as vozes. Era um ambiente muito favorável. Nos sentíamos em casa e
não tivemos nenhum atrito entre os componentes da banda e nem com o Marcos, que
também é um ótimo músico. Já tínhamos uma idéia de como queríamos os timbres
dos instrumentos de cada música, mas o Marcos nos ajudou bastante com idéias.
Optamos pela masterização na MCK e o resultado ficou bem satisfatório.
6) RR
- Os demais músicos também colaboraram na concepção das músicas?
CV - As composições são minhas, com exceção de
“Escravos de Jó” que é domínio público e “Pesque-Pague” e “Escravo do teu amor”
que são assinadas pelo compositor Preto Moreno. Mas as músicas foram evoluindo.
O Daniel Leme e o Ricardo Neves foram os músicos que vestiram a camisa, a idéia
da banda, e tiveram um papel importante em todas as faixas. Eles opinaram e
influenciaram na estrutura final de cada música. Nada foi pro CD sem o sinal
positivo de todos os integrantes.
7) RR - O disco apresenta uma
variedade bem definida, misturando hard rock (faixas "Visita Íntima",
"Cine Privê" e "Brega Rock"), uma levada mais pop (em
"Passar o Ferro" e "Pesque Pague") e até uma aventura flamenca
("Genilda"). Até onde suas influências musicais atuaram nessa
variação?
CV - Queria um disco com músicas diferentes entre si. Escuto vários
estilos musicais: Rock, Blues, Jazz, Soul, Funk (original) e até música
clássica. Não dominamos musicalmente todos os estilos, mas acredito que estas influências
possibilitou experimentar e variar os ritmos no CD.
8) RR - A balada "Vestígios" (ótima
faixa) é a única que foge um pouco da regra do padrão humor das demais faixas.
Qual o intuito de incluí-la junto aos demais temas?
CV - Vestígios era uma música de gaveta,
composta, mas nunca ensaiada. Realmente passaria tranqüilo pelo set de uma banda
“convencional”. Tive a idéia de chamar o Gustavo Hernandez para fazer o solo
com sua gaita de foles e o Marcos do Vale gravou os violões. Depois de gravada
eu mostrei pro pessoal da banda, que gostou. Tá no disco pra quebrar um pouco a
baderna toda...(risos).
9) RR - Existem planos para uma divulgação
do trabalho da banda em âmbito nacional?
CV - Sim. Temos uma pessoa encarregada do controle
de mídias, que já organizou bem a divulgação da banda, padronizando e fazendo o
link entre as redes sociais: facebook, twitter e outras mídias direcionadas na
internet. Também contratamos os serviços de uma distribuidora digital
especializada em música. O CD "Brega Rock" estará nos principais
streamings da internet, como Spotify, Youtube, i Tunes, etc. E também terá venda física do CD no
exterior através da Amazon.com
10) RR - A cena de shows de bandas autorais
na cidade é algo complicado de se desenvolver, mesmo que tenha melhorado
sensivelmente nos últimos meses. Como está o ritmo de shows do Pinga?
CV - No final de 2015 fizemos 3 apresentações de pré-lançamento
do CD "Brega Rock": Casa Kenty, Tô em Casa Music Beer e Butreco Butiquim. Os cachês já estavam pagos
pelo prêmio que ganhamos com o projeto vencedor do “Cultura para todos – Nelson
Seixas”, promovido pela Secretaria de Cultura de Rio Preto. Agora com o CD em
mãos queremos fazer um lançamento oficial, talvez uma seqüência de shows.
11) RR - Quais as influências
musicais dos integrantes da bandas?
CV - Eu gosto de rock desde os 13 anos e ouço
desde Rolling Stones até Slayer... Na música brega gosto da energia do Magal e
das letras do Odair José (que não se considera um artista brega). O Brega é
sinônimo de cabaré e de música tocada nesses ambientes... Também não posso
esquecer a Pedra Letícia que é uma grande inspiração. Já gostava no início,
como trio, e depois que fizeram uma banda completa, com um time rock, virei fã.
Até fiquei amigo do guitarrista Xiquinho...Minha influência pode ser de
qualquer banda ou artista, independente de estilo. A faixa “Passar o ferro”,
por exemplo, foi inspirada na country music. O Daniel Leme é influenciado
musicalmente por Raul Seixas, Tião Carreiro, Deep Purple, ACDC, Whithesnake,
Slash e Iron Maiden. O Ricardo Neves tem como influências o Deep Purple, Led
Zeppelin, Rush, Santana e Jimi Hendrix.
12) RR - Como você vê a cena rock de Rio Preto, já que
você é uma pessoa muito envolvida com música (NR. Carlos é proprietário de
estúdio de ensaios e de loja de instrumentos musicais)?
CV - Hoje os locais priorizam os covers. Mas não
se restringe apenas a Rio Preto. A maioria das bandas da cidade fazem um
repertório focado em covers para conseguirem receber cachês. Mas algumas casas
já abrem espaço para as bandas expor o seu trabalho autoral e isto é ótimo.
13) RR - Quais os próximos passos do Pinga,
agora com seu primeiro CD em mãos?
CV - Já tenho um roteiro que escrevi para
produzir um vídeo-clipe da música “Passar o Ferro”. O protagonista é um palhaço
mímico que ganha a vida fazendo apresentações nas ruas da cidade. Sua esposa é
controladora e megera. E toda a pressão da esposa levará o palhaço a flertar
com sua vizinha. Tudo com muito humor. Queremos investir em vídeo-clipes das
músicas do CD para divulgar ainda mais nosso trabalho.
14) RR - Fique à vontade para deixar um
recado a nossos leitores.
CV - Ouçam o CD "Brega Rock". Para
quem quiser comprar o CD físico (Digipack luxo, com encarte e letras das
músicas), está disponível na loja virtual: http://garagemusical.com.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=1963
Vejam também os clipes
da Pinga com Groselha e se inscreva em nosso canal no youtube.
Para saber as novidades e contatar a banda: https://www.facebook.com/PingaComGroselha
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