A Estação da Luz: a evolução e a tradição setentista juntas no novo álbum, "O Segundo"
Como já se ouviu muitas vezes em conceitos
futebolísticos, em time que está ganhando não se mexe. Pois é. Pegando carona
nesse clichê, poderíamos aplicar tal conceito ao que acontece à banda paulista A Estação da Luz (São José do Rio Preto/SP). Após lançar seu primeiro e icônico
disco, "Estação da Luz", o Estação solta agora seu segundo álbum,
simplesmente intitulado "O Segundo".
E nesse caso, não só o time não se alterou como também se manteve o
esquema tático. Isso porque a banda manteve a sonoridade na qual estreou em
gravações e na qual continua se desenvolvendo. Ancorada por sonoridades
setentistas e com elementos de gente como Rita Lee, Beatles, MPB, e bandas
clássicas nacionais dos 70 como O Terço e Casa das Máquinas, o Estação parece
que conseguiu algo sonhado por muitas das bandas da atualidade: criar uma cara
própria. Uma marca que identifique sua música e que a se associe a seu nome. Isso mesmo, porque, se
alguém ouvir suas novas músicas sem saber quem as interprete vai lembrar do
Estação. É uma situação rara hoje em dia. A mistura da suavidade vocal junto à
cozinha, baixo/batera, enraizada à variedade clássica do rock 70, ao teclado
com efeitos psicodélicos e graves da atmosfera vanguardista e aos fraseados de
guitarra hora colados em Beatles, hora com pés no modernismo, fazem com que o
som que o Estação faz se torne ao mesmo tempo atual e saudosista, e
principalmente, se situe no território do agradável.
"O Segundo"
O álbum foi gravado e mixado pela própria banda, em seu
estúdio, o histórico Área 13. A capa é de autoria do excepcional designer
brasileiro Fábio Matta.
O título do disco é óbvio que é auto explicativo. Quando
lançou "Estação da Luz", em 2012, a banda veio com uma proposta
saudável e admirável de fazer o antigo soar atual, soar agradável, na ideia de
que a música rock é atemporal. E a sequência mostra tratar-se da filosofia
musical da trupe. Não há música antiga. A sonoridade psicodélica e poética dos
70 pode ser atual, pode ser contemporânea.
Quando se ouve "Segundo" sentimos o Estação à
vontade com suas propostas. Não é algo forçado ou planejado para soar assim ou
assado. É assim que o quinteto quer expressar sua música. Sobre temas que
versam sobre romantismo ou existencialismo se fazem como esteio uma estrutura
musical calcada no rock, na MPB e em passagens que flertam com o jazz.
Algumas faixas incursionam (e muito bem) elementos do
rock progressivo, como na instrumental "Papo Furado" (guitarras com
efeitos dos 70 e o baixo num ótimo contraponto), a mais viajante do disco,
"Na Contra Mão" (o teclado nos remete a algo de Jethro Tull), com os
backing vocals característicos da banda, e "Real Loucura" (muita
referência a jazz pela levada da bateria e a participação de sax - cortesia do
músico rio-pretense Victor Hugo - na parte final da música) com sua letra
carregada de psicodelismo.
"Sem Direção" abre o disco e cativa pelo refrão
que gruda na mente. "Pensar em Você (Tudo é Saudade)" tem um doce
apelo radiofônico (se é que pudemos usar esse termo hoje em dia, em se tratando
de rock). "Dia de Domingo" é
cantada por Cristhiano (guitar), sendo a mais enérgica do disco e onde o
teclado conversa intensamente com baixo e guitarra e a batera mais rápida.
"O Segundo" (a faixa), conta com uma breve participação canina ao fundo
(alguns latidos) e intercala momentos
suaves com quebradas melódicas no refrão, lembrando muito o trabalho do
primeiro disco.
"Meu Amigo George" traz boas referências de
Beatles, principalmente nas influências orientais de Harrison e tem um clima
intenso por conta do teclado e boas doses também de psicodelia na letra. "Vícios
Sem Fim" é a faixa que mais se aproxima dos padrões da MPB, levada pela
cadência do baixo e dedilhados da guitarra. Soa como a mais introspectiva do
álbum.
Enfim, A Estação da Luz acertou novamente. Não sei até onde Renata Ortunho (vocal), Cristhiano
Carvalho (guitarras), Alberto Sabella
(teclado), Vagner Siqueira (baixo) e Junior Muelas (bateria) podem levar a
banda em termos de exposição e conquistas mercadológicas pelo Brasil afora, mas
uma coisa é certa, talento, bom gosto nas composições e textura visual não lhe
faltam para isso.
Um papo com Junior Muelas
Ready to Rock - Após 5 anos, eis que é
lançado o segundo álbum. O que mudou pra banda nesse intervalo?
Junior Muelas - Nesses 5 anos acredito
que a banda tenha adquirido um pouco mais de experiência, esse processo de
amadurecimento como banda tem acontecido ano após ano desde o início em 2005 e
isso com certeza reflete positivamente de um disco para o outro.
RR - Percebi uma clara evolução na
sonoridade final do disco. Comparando à produção do primeiro disco, como foi
fazer "O Segundo"?
JM - Algumas músicas do
disco já estávamos tocando nos shows há algum tempo, isso facilitou um pouco na
produção por já sabermos que rumo o disco tomaria, as gravações de nossos
discos são sempre tranquilas e ficamos muito à vontade em relação a timbres, arranjos,
ideias. Acho que no final isso acaba definindo a sonoridade
do disco e da banda.
RR - Eu percebo a banda procurando se aventurar
por outros braços musicais, tentando variar mais em termos de arranjos. Teve
essa intenção?
JM - Isso acaba acontecendo, mais flui
naturalmente. Somos influenciados sonoramente a todo momento isso acaba
refletindo nos arranjos e na sonoridade das músicas.
RR - A veia setentista clássica ainda se
faz presente. Parece ser a marca da banda. Mas não há uma prisão. Dá a
impressão que vocês querem se expressar sobre essa base vanguardista. Como foi o
processo de composição?
JM - Nossas maiores
influências são das décadas de 60/70 e gostamos da sonoridade dessa época que acaba
sendo uma forte característica da banda. Não temos uma linha que seguimos nas
composições, as vezes temos primeiro a música, depois fazemos a letra ou vice e
versa. Sempre que alguém chega com uma ideia, desenvolvemos a música e letras
juntos ou já chega com a música pronta e tocamos colocando a pegada de cada um,
depende....nunca seguimos uma formula.
RR - Faixas como "Real Loucura"
flertam claramente com jazz. Como foi a experiência?
JM - Eu diria mais pro progressivo do que pro
Jazz. Desde o primeiro disco já flertamos com esse estilo que está muito
presente em nossas influências.
RR - Como ocorreu a participação
"canina" em "O Segundo"?
JM- A ideia de gravar na
madrugada os cachorros da vizinhança e colocar na intro foi do Alberto Sabella,
que acabou criou uma atmosfera sonora incrível.
RR - A faixa "Meu Amigo George" é
uma homenagem à Harrison? Tem muito de Beatles nela.
JM - É uma homenagem com certeza. Tem muito de
Beatles e George Harrison solo também.
RR - Quando o disco sairá em mídia física?
JM - Ainda não temos uma
data prevista.
RR - Num universo musical do Brasil, onde não
existe mercado para quem quer apostar em rock autoral, principalmente de uma
escola clássica, qual a visão de vocês em termos de aceitação da música do
Estação?
JM - A aceitação do público é muito boa , temos
fãs por todo país. Existe uma cena independente que não tem o apoio da grande
mídia, mas sobrevive mesmo assim graças a internet que ajuda a espalhar seu som
pelo mundo todo muito rapidamente que é um meio de divulgação muito eficaz. E
existem algumas Rádios(AM/FM) que dão uma força para os artistas independentes.
RR - Aqui em Rio Preto, temos o circuito
tradicional de covers em bares e espaços específicos. Como vocês sentem a
aceitação do Estação, enquanto banda autoral nessa cena?
JM - Sempre transitamos
por esse circuito com um ótima aceitação, em Rio Preto atualmente tem uma ótima
cena autoral, tem muitas bandas/músicos/compositores sensacionais a aos poucos o
apoio e a cena vem crescendo.
RR - Como você sentiu a aceitação do
primeiro trabalho, mesmo em termos nacionais, e como será a expectativa para
este segundo?
JM - Tivemos ótima aceitação com o
nosso primeiro trabalho, nos rendeu vários shows pelo país e ótimas críticas
nas mídias e acredito que agora com “O Segundo” será muito legal também e hoje
a internet tem várias ferramentas que ainda não rolava em 2012 quando lançamos
nosso primeiro disco e que ajuda demais na divulgação do trabalho.
RR - Sua música é algo que a cena do rock
brasileiro tem aderência. Até onde você acredita que o Estação pode chegar?
JM - Não saberia te
dizer, vamos continuar lançando nossos discos e vamos deixar rolar...(risos)
RR - Quais os planos do banda para os
próximos meses?
JM - Nos próximos meses faremos os shows de
divulgação do disco e logo vamos começar a trabalhar nas músicas do próximo
disco.
Contatos:
Facebook: https://www.facebook.com/A-Esta%C3%A7%C3%A3o-da-Luz-151771108176177/
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCHjoXxlbXjqxNibz1DdqgQQ
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