Bebop Blues – banda volta mais enérgica em novo e imponente EP, “Mad Dog”

                                                                      

Já há vários anos, muitas bandas e artistas individuais, tem produzido e apresentado (em São José do Rio Preto/SP) suas músicas baseadas no blues (esse estilo centenário que gerou diversos filhotes, dentre eles o rock and roll e seus descendentes). Desse time faz parte o Bebop Blues. Após lançar em 2020 o EP “Stray Cat” a banda vai soltar, a partir de 04 de agosto (2023), seu novo trabalho, “Mad Dog”.

O pré-save do trabalho pode ser encontrado em https://show.co/NVKL8oy.

O time continua o mesmo do primeiro trabalho, com Fernando Poiana (guitarra), João “Baby Blues” Carvalho (gaita e voz), Paulo Garrido (baixo) e Guilherme Pala (bateria). A turma não abriu mão do capricho extremo, no que diz respeito a composições e arranjos.

Produzido novamente no estúdio Area 13, “Mad Dog” apresenta 4 faixas inéditas. A banda desta vez soou mais enérgica, fazendo com que as 4 faixas transpirem viscelaridade, em caminhos musicais diferentes, ainda que tenha no blues-rock sua referência nativa.

“I Don’t Know Why” – Intervenção de baixo na intro (porque não dizer riff?), assinatura de soul-funk nos andamentos (até pela presença da gaita). Batera alta bem destacada (e pela levada, cheia swing, como tinha que ser). Vocalizações suaves (que lembra por vezes Jack Bruce). Soleira deliciosa das 6 cordas. Cuidado: refrão cola na mente.

“It Won’t Be Long” – A dupla distorção e solo se abraçam no início dessa faixa, com mais cara de rock and roll (e apetitosamente áspero, diga-se de passagem). Rifferama vibrante na cara (como se fosse um híbrido de Stones com Montain). E dá-lhe solo de gaita no final.

“Mad Dog Shuffle” – fazendo jus ao nome, a levada e o clima desta instrumental rementem na levada shuffle, uma celebração ao passado, com o feeling moderno de guita (solo e riffs com groove). Um espaço justo para um solo de baixo, amparado pela construção certeira e jazzísticas das peças da bateria que também faz sua intervenção solo.

“You’re On Your Own” – Uma mescla da aura blues, com texturas de rock moderno. A gaita entra com passagens melódica e suavemente colocodas. Outra majestosa viagem ao blues rock que nos fazem lembrar de nomes como John Mayall & the Bluesbreakers ou Yardbirds.

 

O Ready conversou com o guitarrista Fenando e o vocalista/gaitista João Baby Blues sobre esse novo lançamento.

 

Ready to Rock - A banda vai lançar seu novo EP, “Mad Dog”. Quais as diferenças, em sua opinião, em termos de composição e arranjos em relação ao EP anterior, “Stray Cat”, de 2021 (além da referência à gato e cão (risos))?

João Baby Blues: Em maior parte, esse EP flerta mais com o lado rock ‘n’ roll do blues. Composições e arranjos mais agressivos e timbres mais saturados. Enquanto as letras do “Stray Cat” são mais voltadas ao descaso com a sociedade, as letras do “Mad Dog” vem mais violentas quanto a vários aspectos da sociedade moderna. Podemos dizer que o “Stray Cat” conta a história do cara que já não liga para as dificuldades contemporâneas, enquanto no “Mad Dog” a personagem se revolta de fato com essas dificuldades.

Fernando Poiana: As composições de “Mad Dog” são permeadas por certo sentimento de urgência e de ansiedade diante de uma série de situações que escapam ao controle do indivíduo. Além disso, elas exploram mais o lado contraditório dos personagens e, portanto, mais ambíguo. Talvez essa seja uma diferença fundamental.

 

RR - Realmente contagiante a variação musical de “Mad Dog”, além da essência blues da banda, existem músicas com pegada visceral, como “It Won’t Be Long” e outras que caminham mais pela estrada do soul-funk, como “I Don’t Know Why”. Como se deu a inspiração para as composições?

Fernando: O blues é sempre acusado pelos seus detratores mais radicais de “soar sempre tudo igual”. Então, uma das nossas preocupações como banda tem sido, justamente, a de explorar as diferentes sonoridades possíveis dentro do universo do blues. Parte da inspiração para as composições, nesse sentido, para o tipo de forma que elas acabaram tomando, é justamente desmentir um pouco desse estereótipo. Além disso, um disco com pouca variação musical, penso eu, sempre acaba renunciando à possibilidade de expandir as fronteiras desse ou daquele gênero musical. E quando o compositor deixa de fazer isso ele começa a entrar num caminho estético muito perigoso, porque pode esbarrar em reacionarismo, nostalgia e outras questões que, ao fim e ao cabo, matam um gênero musical à míngua. Além disso, essa variação sonora é proposital também devido aos temas que as letras discutem. Cada contexto lírico pede um tipo de som, pede um tipo de arranjo, uma atmosfera musical que faça sentido dentro de um contexto mais amplo.

 


RR - Já “Mad Dog Shuffle” (uma ode ao shuffle) e “You’re On Your Own” (mescla bem dosada de rock e blues) me remetem a alguns trabalhos anteriores da banda.

João: “Mad Dog Shuffle” tematicamente lembra bem “Baby Blues Boogie” do primeiro disco, porém, o tema do Boogie era uma frase clássica de blues que o João “Baby Blues” fazia em algumas jams que ganhou nome e letra. “Mad Dog Shuffle” vem com um tema bem mais elaborado e mais visceral, que tende a remeter a sensação de revolta a quem escuta.

 

RR - Falemos um pouco da parte lírica do EP. No pré-release é citado o termo “eu-lírico”, que expressa seus sentimentos e emoções em relação à vivência e lado social em geral. Nos conte a respeito.

Fernando: As letras são, na verdade, um mosaico de observações e reflexões dos personagens sobre si mesmos e sobre o mundo em que vivem. Gostamos de inventar mundos. Em “Burning Land” (do disco “Stray Cat”), inventamos uma cidade de clima super quente na qual as pessoas são pretensiosas e metidas a ter uma relação de verniz com a cultura. E fizemos isso porque não foi possível encontrar uma única cidade no mundo em que existisse gente assim. Dessa vez, com as letras de “Mad Dog” não foi diferente. “It Won’t Be Long”, por exemplo, trata de um eu-lírico que se percebe cercado de pessoas toxicamente positivas, que fingem sentir uma empatia que sequer possuem, e que fazem isso por pura convenção social, para nutrir certa imagem de “sujeito de bem” diante daqueles que quer impressionar. Tivemos que inventar essa personagem, uma vez que gente assim não existe. Também inventamos a personagem de “You’re On Your Own”, sujeito passional, meio melodramático, e incapaz de assumir os erros que comete em série, bem como o ressentimento que cultiva como consequência de nunca se autoavaliar. Outro tipo de pessoa que não vemos por aí.

 


RR - A banda registrou as gravações (a exemplo do último EP do Luigi e os Pillandellos) no Área 13. A produção neste estúdio teve alguma interferência especial no resultado final do novo EP?

Fernando: Sim, totalmente. O Alberto Sabella, dono do estúdio e responsável pela captação, mixagem e masterização do som é um profissional extremamente competente, meticuloso e experiente. Essas características são vitais para um resultado final com qualidade realmente profissional. Além de tudo, ele é nosso amigo, o que tornou as sessões de gravação, além de produtivas, muito divertidas.

 

RR - Novamente João, você desenvolveu a arte da capa do EP. Fale-nos sobre ela.

João: A ideia da banda sempre foi lançar um disco integral com esse tema de descaso e raiva que a sociedade tem para consigo mesma. O formato de dois EPs foi muito útil para criar essa ideia de forma comercial (tendo em vista que artistas maiores trabalham exclusivamente com singles). A capa é basicamente uma continuação da capa do “Stray Cat”. Essa brincadeira temática é muito gostosa de trabalhar, e realmente dá orgulho ver algo desse tipo sair do papel e vir a se realizar.

 


RR - Há a intenção de prensagem mídia física para “Mad Dog”?

João: A banda pensa sim em talvez lançar uma prensagem em vinil, lado A “Stray Cat” e lado B “Mad Dog”, com os singles inclusos, porém, ainda precisamos verificar a demanda desse material, e se compensa comercialmente de fato lançar (tendo em vista, que se fizéssemos de fato isso, nossa principal preocupação seria com a qualidade do produto).

 

RR - Li que a banda vai se apresentar no SESC (em São José do Rio Preto/SP). Seria um show específico de lançamento de “Mad Dog” em Rio Preto?

João: Sim, realizaremos um show de lançamento do disco na unidade do SESC de São José do Rio Preto (N.E. dia 03/08/2023, quinta-feira).

 


RR - Várias bandas tocando e lançando trabalhos nos últimos anos. Como você enxerga a aceitação do blues-rock em Rio Preto nos dias atuais?

João: Há público, há aceitação. Algumas pessoas tem uma visão muito turva sobre o espaço que o blues ocupa no cenário tanto brasileiro quanto Internacional. Mas o que temos visto recentemente são bandas recentes de blues-rock fazendo muito sucesso (Black Pumas, The Black Keys, Cage the Elephant, LP, etc). Creio que o futuro guarda um público menos conservador em termos de estilos musicais e mais diversos quando se trata de “Música Boa”! Pois, no final do dia, música boa é música boa, independentemente do estilo.

Fernando: Há muito público, e nós da Bebop Blues, junto com os nossos amigos da Big Blues, já conseguimos provar essa tese. Em 2020, as duas bandas fizeram o primeiro Blues Night Festival, e os ingressos se esgotaram em apenas 2 semanas. Se a demanda por esse evento foi tão grande é porque certamente existe o público. Até porque nossas famílias não são numerosas o bastante para comprar todos os ingressos (risos).

 

RR - Fique à vontade pra deixar quaisquer outras informações da banda e de “Mad Dog”

Fernando: Eu quero, antes de tudo, agradecer a cada pessoa que ouve nossas músicas nas plataformas de streaming, que nos escreve perguntando sobre a banda, perguntando sobre a agenda de shows, sobre músicas novas e assim por diante. Manter uma banda em atividade não é trabalho simples: demanda muita dedicação de cada integrante, muita organização e uma enorme disposição em adequar as agendas pessoais para realizar ensaios, gravações e, claro, shows. Portanto, receber o feedback positivo que temos recebido das pessoas que passaram a seguir o nosso trabalho desde o lançamento de “Stray Cat” é muito legal.

Sobre “Mad Dog”, é um disco que morde (risos). Ao ouvir as músicas, é melhor estar com todas as vacinas em dia. 

 

O Bebop Blues se firma cada vez mais como um forte nome na cena. Em “Mad Dog” a banda não se contentou com o padrão sonoro do primeiro EP e inovou, enxertou sonoridades e acertou em cheio. Um trabalho extremamente coeso e cativante. Cabe a nós seus ouvintes a expectativa de venha logo outro excelente trabalho, seja em singles, EP ou porque não, um full-length.

 

 

Contatos:

 

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