Luigi e os Pirandellos: excelência musical com o empolgante EP “Sleepy Town”


É notável e celebrável o nível de qualidade das produções autorais musicais de bandas e artistas de São José do Rio Preto/SP nos últimos anos. A cada mês mais e mais nomes divulgam suas criações, nos mais diversos formatos consumíveis. O guitarrista e músico Fernando Poiana, a exemplo de outros músicos da cidade, é uma espécie de multi-bandas na cena. Além de se apresentar com outros artistas (em ofertas de jazz e blues), ele integra ainda o Bebop Blues (blues), Startroop (rock progressivo) e o Luigi e os Pirandellos (rock).

E é exatamente esta última formação que se prepara para lançar seu primeiro EP, “Sleepy Town”. Duas belas amostras musicais serão lançadas em 13 de julho (data conhecida mundialmente como “Dia do Rock”), as faixas “Ghosts” e “Sleepy Town”.

 

Luigi e os Pirandellos tem em sua formação, além de Poiana (guitarra), Alex Wolf (bateria/Voz

Alvaro Hattnher (baixo) e Bruna Venancio (vocais). O grupo está em atividade desde 2010 e vem se apresentando com boa constância nos palcos rio-pretenses.

 

As influências dos músicos se baseiam no que de mais clássico se fez no rock and roll, como Led Zeppelin, Janis Joplin, Deep Purple, Jimi Hendrix, Cream, The Who, The Rolling Stones, The Beatles, ZZ Top, David Bowie, Queen, dentre outros.

 

As faixas que serão lançadas em 13 de julho, “Ghosts” e “Sleepy Town” são duas primorosas composições, excelentissimamente bem compostas, arranjadas e executadas. E seguem direções musicais diferentes.

A primeira, “Ghosts”, apresenta uma dinâmica mais enérgica e moderna. Com boa dose de groove em bateria e baixo. Excelente interpretação das harmonias vocais de Bruna e Alex. Alternância de belos solos e licks na guitarra costurando as passagens. Chamar de empolgante é obrigação mínima.

Já “Sleepy Town” tem delicioso cheiro de uma vibe mais clássica. Começando com a orgânica referência a efeitos de guita a lá Hendrix, a música se entrega a um blues rock de respeito. Bruna mostra sua versatilidade em vocalizações (e acerta em tudo, médios, agudos). Nos solos (em alguns momentos em dobras), a lembrança pode te levar a alguma excelência de Gary Moore, por exemplo. Cadência e intensidade ideal da cozinha, para que a música se sirva da crescência na medida certa, culminando no final com backings e bela dramaticidade.

 O EP só tem um defeito. Apenas 2 músicas. Fica a sensação de querer ouvir mais material da banda, na garantia de consumir música extremamente deliciosa aos ouvidos.

Atenciosamente, todos os músicos da banda conversaram com o Ready, falando de sua trajetória e do lançamento do EP.

 

Ready to Rock - Primeira pergunta em termo de curiosidade. Porque o nome Luigi e os Pirandellos?

Bruna Venâncio (risos). A banda nasceu no Ibilce e um dos guitarristas (na época, eram dois), tinha o apelido de Luigi. Como a maior parte da banda é da área de Letras, fizeram a piada com o dramaturgo Luigi Pirandello. Nunca encontramos um nome melhor do que esse para a banda, acabou ficando.

Alvaro Hattnher: O nome veio de uma gozação que envolveu um dos fundadores da banda, o guitarrista Luis Totti, carinhosamente chamado de Luigi. A brincadeira é com o nome do dramaturgo italiano Luigi Pirandello. O Luigi não está mais na banda, mas o nome acabou permanecendo. 

 

 

RR - Vocês lançarão um EP em breve. Como vai se chamar e quantas músicas terá?

Bruna - O nome do EP é “Sleepy Town”. Serão duas músicas chamadas “Ghosts” e “Sleepy Town”.

 

 

RR- “Ghost” e “Sleepy Town” têm segmentos musicais distintos. Essa variação será a tônica de futuros trabalhos da banda?

Bruna - Penso que sim. Eu gostaria de dizer que, como músicos, pensamos em todos os detalhes da composição e da seleção que realizamos, mas as coisas são menos racionais e conscientes do que parecem. Quando selecionamos as músicas, elas eram as bem mais formatadas e que, à sua maneira, representavam estilos diferentes da banda. Achamos interessante para um primeiro trabalho.

Alex Wolf - Buscamos manter, sim, um “padrão” para nossas músicas a fim de estabelecermos uma melhor comunicação com um segmento específico de público. Temos como base os clássicos do rock dos anos 70. Entretanto, em meio a discussões ao longo da produção de nossas canções, decidimos criar músicas que transmitam diferentes sensações umas das outras para que, ainda que dentro dessas especificações, mostrem que sabemos trabalhar com uma volatilidade de estilos para que as músicas não soem todas parecidas entre si.

Fernando Poiana - Pessoalmente, eu rapidamente perco o interesse por discos em que as músicas soam muito parecidas umas com as outras. Questão de gosto pura e simplesmente. De alguma forma, portanto, isso acaba se refletindo no tipo de material que eu acabo compondo, sozinho ou em parceria com outros músicos, como é o caso desse EP.

 

                                                            https://show.co/G0j8bpM

 

 

 

RR - “Ghosts” carrega uma aura mais moderna, nos timbres e na parte rítmica. Uma bela surpresa. Fale-nos dessa composição. Quem divide os vocais com a Bruna?

Bruna - A voz masculina é do Alex, o baterista e quem escreveu a música – e talvez seja a melhor pessoa para falar sobre a composição. Quando estava estudando a parte vocal, achei que seria interessante ter uma voz de contraponto à minha. Principalmente na parte do refrão em que optei por cantar mais agudo. Ter mais vozes envolvidas deixou a música mais interessante e mais adequada ao seu próprio tema (no refrão tem o trecho “Ghosts, can’t you hear them singing”, por exemplo, seria triste ter uma voz apenas, mesmo que dobrada).

Alex - A letra foi criada durante o momento de isolamento social por conta da pandemia de COVID-19. “Ghosts” (Fantasmas, em Inglês) brinca com os sentidos literal e figurativo da palavra. No primeiro campo, utilizamos termos que remetem ao sombrio, aterrorizante e místico universo dos espíritos (correntes se arrastando, cadeiras de balanço se mexendo sozinhas, lençóis brancos, etc.) que atribuem à obra um clima de terror. Metaforicamente, tratamos também dos “fantasmas” que habitam em nosso interior que apareceram com ainda mais intensidade durante a pandemia, momento em que tivemos que aprender a passar um maior tempo na companhia de apenas nós mesmos.

 

 

RR - Já “Sleepy Town” tem a vibe mais clássica, com referência a blues-rock. Essa representaria as maiores influências da banda?

Bruna - Interessante a pergunta, eu não tinha pensado nisso. A gente tem referências da soul music, só não sei se consideraria “Sleepy Town” como a música com as maiores referências da banda. Mas, sem dúvida é a que mais se aproxima das minhas referências como cantora.

Alvaro - As maiores influências da banda situam-se, no geral, nos grupos e bandas do chamado “rock clássico”, com foco na 2ª metade da década de 1960 e 1a metade da década de 1970. Os setlists dos nossos shows mostram isso: Cream, The Who, Led Zeppelin, Jimi Hendrix…

Fernando - Talvez tenha, sim, alguma influência. Quando comecei a rascunhar a música, antes de levar o material para o ensaio, eu tomei como referência coisas que o Jeff Beck gravou com a Joss Stone, por exemplo. Estava com esse tipo de sonoridade em mente. Depois vieram outras referências para completar o arranjo da música. Àquela altura a banda já tinha finalizado a faixa “Ghosts”, que é mais agressiva, feita para ser ouvida a pleno volume e enlouquecer o seu vizinho, o síndico do condomínio, essas coisas. Então, eu comecei a pensar em algo que contrastasse com essa agressividade toda, mas que dialogasse com a outra faixa. Algo que soasse como certo desespero calado – o “hanging on in quiet desperation” da letra de “Time”, do Pink Floyd.  Na época essa era uma imagem que me fazia muito sentido, por uma série de questões micro e macroestruturais. Quando apresentei a ideia para a banda, o pessoal gostou e resolvemos trabalhar em “Sleepy Town”, que se tornou o nome do EP e que tem, na letra, uma referência ao Luigi Pirandello, escritor italiano que certamente nunca sonhou que acabaria virando nome de banda de rock. Em “Sleepy Town”, a música, por exemplo, tem um trecho inspirado na história real de uma pessoa que foi salva de acabar vítima de uma seita porque simplesmente não conseguia abandonar o álcool e a carne vermelha, que os “gurus” da seita julgavam ser vícios. Ao mesmo tempo, a letra da música traz referências a obras do escritor Luigi Pirandello que, inadvertidamente, escreveu uma obra literária vasta e riquíssima para, no fim, acabar como trocadilho que batizou uma banda de rock do interior paulista. Então, tem certas notas de humor absurdo escondidas aqui e ali nas canções também.

 


 

RR - Além das influências de rock clássico da banda, o que as referências de jazz e soul de você Fernando, e da Bruna, podem influenciar na composição de uma música da Luigi e os Pirandellos?

Bruna - No meu caso nunca me achei exatamente um vocal clássico de rock, que usa distorções ou aqueles agudos “nervosos”. Mas, se a gente fizer um compilado de cantores de rock, vamos ver que essa ideia de um vocal clássico também não se aplica a 100% dos cantores; é um estereótipo, e como todo estereótipo, não se aplica a todos os casos. Mas, receio que haja, sim, uma expectativa do público sobre o tipo de voz que um cantor ou uma cantora vai apresentar em uma banda de rock. O que poderia ser um problema, porém, acaba oferecendo algum diferencial para a banda.

Fernando - Ah, sim. Esses estilos podem influenciar, de diferentes maneiras, não só na composição, mas também algumas decisões de arranjo, escolhas de notas, formas de pensar a improvisação, e por aí vai. 

 

 

RR - A qualidade de produção (composição, arranjos, execução) das faixas está fantástica. Como se deu esse processo e onde foram gravadas as músicas?

Bruna - Nós gravamos no Área 13, estúdio do Alberto Sabella. E eu também fiquei impressionada com a qualidade do trabalho minucioso que ele faz. A composição e os arranjos instrumentais é 100% nossa e tanto durante a gravação, quanto durante a mixagem, Fernando e Alvaro estiveram presentes acompanhando e dando as orientações necessárias. Para a parte vocal, contamos com o apoio da vocal coach Bárbara Poeta, sobretudo nas divisões de vozes.

Fernando - A banda ensaiou muito antes de entrar no estúdio. Toda a pré-produção foi muito cuidadosa, nesse sentido. E isso sempre faz enorme diferença no resultado final. A gravação em si foi dividida em algumas poucas sessões: bateria e baixo em uma delas, guitarra em outra e, depois, vozes. Gravamos tudo no estúdio Area13, do Alberto Sabella, que também mixou e masterizou as faixas. Então, muito desse som que você diz ter gostado é mérito do Alberto também, que é experiente e meticuloso.

 

 

RR - Você (Fernando) leva a cabo ainda o Bebop Blues e o Startroop, que estão produzindo trabalhos também. Como é conciliar os 3 projetos e quais as diferenças em termos de atuação junto aos músicos das bandas, para o Luigi e os Pirandellos?

Fernando - Não dá para acusar essa rotina de ser monótona. São 3 bandas com pessoas diferentes, com estilos e repertórios diferentes, com propostas e públicos distintos. Nesse contexto, você necessariamente expande os seus horizontes musicais e refina consideravelmente a sua habilidade de lidar com o lado profissional do ofício, ou seja, respeitar calendário, obedecer a horários, respeitar prazos. E, antes que você pergunte, ainda tenho vida social, sim. Como dizem por aí, se organizar direitinho...

 

 

RR - Há planos para inserir as faixas do EP no set de apresentação ao vivo da banda?

Bruna - Não só há, como já o fizemos. Tocamos todas as nossas músicas prontas nos shows e completamos o set com os covers.

Alvaro -  Sim, elas já foram apresentadas em shows da banda, com excelente recepção por parte do público. E, ao vivo, a banda sempre pode acrescentar outros elementos. Por exemplo, no final da canção “Sleepy Town”, a banda toca um trecho de “Soulshine”, composição de Warren Haynes e gravada pela Allman Brothers Band e pelo Gov’t Mule. Essa é uma das características notáveis e notórias da nossa banda: citar outras canções no meio da “canção principal” que estivermos tocando.

Fernando - Ao vivo tocamos essas músicas, de “Sleepy Town” e também músicas que pretendemos lançar no futuro.

 




 

 

RR - A banda pretende lançar o EP em formato físico, ou apenas em streaming?

Bruna - No momento, somente em streaming.

Fernando - Por enquanto vamos lançar apenas em streaming. Mas seria legal lançar as faixas, remasterizadas, em vinil no futuro. Que sabe? Luigi e os Pirandellos lançando um LP?

 

 

RR - Eu acredito que o padrão atingido nessas duas faixas tem todo potencial de ser trabalhado até mesmo fora do país. Existe alguma estratégia neste sentido?

Fernando - Não há nada específico nesse sentido, voltado para o mercado interno ou externo exclusivamente. De forma simplista, daria para dizer que, uma vez estando no streaming, as músicas podem ser ouvidas em qualquer lugar do mundo, o que é verdade. Mas, de novo, essa é só uma obviedade, não uma estratégia de divulgação. O fato é que músicas nunca se divulgam sozinhas. Agora, o que a banda tem feito, no momento, é uma divulgação independente, por meio de vídeos e postagens em suas redes sociais, porque até temos influência de bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Jimi Hendrix, The Who, Janis Joplin. Só não temos os orçamentos deles. Outra obviedade.

 

 


 

 

RR - Fique à vontade para deixar quaisquer outras informações da banda.

Fernando - No fundo da minha mente, eu chamo material de “quatro músicos à procura de um disco”. Nessa busca, encontramos o EP “Sleepy Town”, que vocês escutam em todas as plataformas digitais.

 

O EP “Sleepy Town” prova que o Luigi e os Pirandellos está mais que pronto, e deve (e merece) lançar em voos mais altos, pelo altíssimo nível de qualidade e sua música, fruto obviamente da excelência técnica de seus integrantes. Sua arte musical tem totais chances de ser abraçada no mundo todo. Vamos torcer para que os canais certos os levem até lá.

 

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